sábado, 1 de junho de 2013

Degustação de vinho em Minas

Ocê gósdevinho?
Degustação de vinho em Minas
- Hummm... - Hummm...
- Eca!!! - Eca?!
Quem falou Eca?
- Fui eu, sô!
O senhor num acha que êsse vinho tá com um gostim estranho?
- Que é isso?! Ele lembra frutas secas adamascadas, com leve toque de trufas brancas, revelando um retrogosto persistente, mas sutil, que enevoa as papilas de lembranças tropicais atávicas...
- Putaquepariu sô! E o senhor cheirou isso tudo aí no copo?!
- Claro! Sou um enólogo laureado. E o senhor?
- Cebesta, eu não! Sou isso não senhor!! Mas que isso aqui tá me cheirando iguarzinho à minha egüinha Gertrudes depois da chuva, lá isso tá!
 -  Ai, que heresia! Valei-me São Mouton Rothschild!
 - O senhor me desculpe, mas eu vi o senhor sacudindo o copo e enfiando o narigão lá dentro. O senhor tá gripado, é?
 - Não, meu amigo, são técnicas internacionais de degustação entende? Caso queira, posso ser seu mestre na arte enológica. O senhor aprenderá como segurar a garrafa, sacar a rolha, escolher a taça, deitar o vinho e, então...
 - E intão moiá o biscoito, né? Tô fora, seu frutinha adamascada!
 - O querido não entendeu. O que eu quero é introduzi-lo no...
 - Mais num vai introduzi mais é nunca! Desafasta, coisa ruim!
 - Calma! O senhor precisa conhecer nosso grupo de degustação. Hoje, por exemplo, vamos apreciar uns franceses jovens...
 - Hã-hã... Eu sabia que tinha francês nessa história lazarenta...
 - O senhor poderia começar com um Beaujolais!
 - Num beijo lê, nem beijo lá! Eu sô é home, safardana!
 - Então, que tal um mais encorpado?
 - Óia lá, ocê tá brincano com fogo...
 - Ou, então, um suave fresco!
 - Seu moço, tome tento, que a minha mão já tá coçando de vontade de meter um tapa na sua cara desavergonhada!
 - Já sei: iniciemos com um brut, curto e duro. O senhor vai gostar!
 - Num vô não, fio de um cão! Mas num vô, messs! Num é questão de tamanho e firmeza, não, seu fióte de brabuleta. Meu negócio é outro, qui inté rima com brabuleta...
 - Então, vejamos, que tal um aveludado e escorregadio?
 - E que tal a mão no pédovido, hein, seu fióte de Belzebu?
 - Pra que esse nervosismo todo? Já sei, o senhor prefere um duro e macio, acertei?
 - Eu é qui vô acertá um tapão nas suas venta, cão sarnento! Engulidô de rôia!
 - Mole e redondo, com bouquet forte?
 - Agora, ocê pulô o corguim! E é um... e é dois... e é treis! Num corre, não, fiodaputa! Vorta aqui que eu te arrebento, sua bicha fedorenta!..

 Luiz Fernando Veríssimo

Nenhum comentário: